8 de jan. de 2008

a cena da perna esquerda que ninguém entendeu

Bah,
esse momento é único. vou tentar descrever, embora seja tarefa quase impossível, pois ele tem muito mais jeito de ECO do que de fotografia.
(é muito importante confiar nos seus pressentimentos, mas cuidado)
ele é como aquele momento, em que nunca se sabe se é um dejavu,
ou se o tempo fica lento mesmo,
quando se entende o acidente que está por acontecer.
tipo quando a gente já entendeu que tá batendo o carro, mas ainda nao ouvir o estouro das ferragens, ou quando a gente entende que um pedacinho de morte bate à porta, porque vai ter um membro amputado. este já não está mais lá, mas a cada noite, quando se deita na cama, se sente a dor.
é estranho, muito estranho. não sei se de fato acontece antes de ouvir os estouros,
ou, como tudo é tão intenso, é gravado na nossa memória em alta resolução e fica-se relembrando compulsivamente durante e após... talvez numa tentativa ingênua de realmente entender o que aconteceu, mas a cada vez q se re-assiste ao momento, ele está um pouquinho mais embaralhado, e os significados transitam livremente, sem destino.
não se tem vontade de nada, a não ser de que acabe.
de recomeçar.
mas não re-começar de verdade. e sim começar outra história, que não tenha aquilo na memória. q nao tenha nada daquilo.
a famosa liberdade.
será?
é angústia que, diferente do normal, deixa a batida do coraçao lenta, de forma que a nossa mente consegue enxergar 360 graus. e ainda assim não entende.
eu ainda nao entendi e talvez nao queira acreditar.
mas sem de forma alguma desrespeitar ninguém,
sinto que me preparam para amputar a perna.
e me desafiam a não sofrer.
a tirar de letra.
a sorrir
e seguir a vida sendo feliz.
eu tento matar no peito.
ainda nao sei se consigo.
ninguém topa me contar o final da cena.
ainda tem uma trilha de suspense, mas não é mais medo, é terror mesmo, de saber q não se pode fazer nada, vai perder uma perna.
e vai ter que continuar andando. sambando, e sorrindo.
eu posso ser feliz sem a perna.
mas eu gostava muito de tê-la fazendo parte de mim.
fazia muito sentido ter essa perna. perna esquerda.
e agora parece que não me resta outra alternativa a vender tudo que tenho, me desenraizar daqui, e buscar um lugar em que se possa viver bem só com uma das pernas. em que as pessoas não reparem no meu olhar a dor que essa amputação me causa.


e segue o baile...

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