10 de out. de 2008

Hoje eu vi o sol

E difícil entender a magnitude do momento.
mas esse foi sim a 1a vez que eu vi o sol, aqui.
Ele estava cortado em faixas, como alguma marca, não lembro de que.
estava vermelho e imenso.
estonteante no meio de tanto cinza.
eu caminhava correndo, com livros e fome, querendo chegar em casa e sentir q esse dia já acabava.
de repente olho pra direita.
no fim da rua, que vou cruzando, está ele, num riso Rojo, que nao sei se é pra mim ou ri de mim.
eu avanço o corpo por causa do embalo, e perco ele de vista.
pára tudo, recua, que esse perpectiva tá exepcional.
mas ai q fome, sigo, o embalo ainda me empurra, mesmo que o corpo esteja parado.
posso ver lá do mirador da minha rua.
faltam duas quadras.
está imenso, lindo, mas lá longe.
penso em avançar mas tenho medo de perdê-lo.
deixar de ter agora para ter depois: muito arriscado.
preciso dele.
entro na rua, q como a minha, é fechada por portão.
o guarda vai se posicionando como alguém que não vai me deixar passar.
(nesse momento a cara de gringa serve para alguma coisa)
digo: vou tirar uma foto do sol.
ele diz: um favor senhorita, cuidado porque o portão está caindo, não se aproxime demasiado.
ok.
vou, no caminho o sol já mudou, vai se escondendo, passando como uma folha numa impressora, pela nuvem que gera a doçura do vermelho, lá no céu, e faz o mundo por um segundo ter as duas dimensões de uma fotografia.
profundidade é imaginação.
ele corre, na mesma velocidade que eu.
quase me vou pelo buraco do muro.
e ele sim se vai.
deixa ainda um resto de luz,
e o mundo daqui como sempre
cinza.

mas quem disse que cinza é feio?
volto a repetir: tudo depende de como você vê as coisas.
na minha casa o cheiro é de molho de tomate.
no pátio tem um monte de pitoco.
alguma festa burguesa de aniversário de criança.
imensa população de bebes de 2 anos, devem ser coleguinhas de escolinha.
me dá saudade da Projeto.
quero que meu filho seja como alguns de meus alunos, doce, criativo, cuidadoso e feliz.
quero muito, me dissem todos sempre.
exijo demais das pessoas, da vida.
pode ser...
nunca vou negar isso, ou pelo menos vou tentar ..
mas assim eu vou levando a vida, sempre com mais sorte que vergonha, as coisas terminam superando minhas expectativas.
o mais interessante de tudo é a intensidade com que somos capazes de aprender.
em uma cena, em uma vivência, a tua vida se transforma uma vez mais.
toda tua história muda o rumo...
algumas várias vezes por dia.
e assim vai desenhando, um sobe desce descordenado, tremido e melecado,
um pouco como os batimentos cardíacos,
um pouco como as ondas do mar...
a história tem sua própria dança
dinâmica que ninguém pode decifrar

por mais evidente que a vida seja,
é inevitável sofrer
algumas vezes pelo mesmo
motivo.
outra por novos...

e o que foi que eu aprendi hoje sobre o Sol?
que ele aqui as vezes aparece.
que pode vestir-se de vermelho, e dar a impressão que é muito maior do que sempre.
que quando vê que a gente já viu, corre e se esconde.
porque vem só pra dar o recado.
de que as coisas de agora não são para depois.
e que se tu segue o embalo, muitas vezes passa reto de ti mesmo.
e se perde no caminho.

aquele olhar vazio.
que não sabe se vai ou se fica.
que se perde no tempo
por querer perder-se na história.
que deseja que nunca tivesse acontecido
que quer escapar do presente
tenta entender o passado.
quer abandonar qualquer futuro.
deixa a vida do lado de fora
olha, olha e não vê
que ao deixar de respirar, a vida não termina aí.
que a vibra do que tu escolhe fazer
te segue por qualquer dimensão
e que o medo é capaz de cegar
até alguém que já é cego.

e que a resposta pra o que te tira do ar,
pra isso que te machucou
que te prendeu nessa caixa do orgulho
que te jogou fundo tua auto-estima
não tá na conversa, por mais que seja bom conversar.
não tá na resposta
do outro
nem no perdão.
se não na mão.
que longe desconhece o caminho,
que perto não precisa de mais nada.
o corpo só quer descansar, porque tudo isso é muito pra nós
mas a mão sabe o que é.
encontra o lugar no outro.
sente todos os medo.
treme pela emoção do encontro.
e não pode disfarçar.
entrega tudo que faltava
pra aquilo que causou o dano,
converter-se no próprio remédio
e transformar a vida
em prisão-solução

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