27 de nov. de 2008

mi dedito


Mi deditooooo...

essas palavras, ditas com voz de choro, banhadas por muitas lagrimas, são o highlight da minha semana passada.

Que loucura que um pequeno corte no dedo, por um mal manuseio da faca de serrinha, possa gerar tantas emoções!!
quem me conhece já sabe que não sou das melhores com sangue, especialmente com o meu.

Estava cortando o pão, numa manha de domingo agradável, até que num descuido, tudo que vinha sentindo ganhou uma oportunidade de ver a luz do dia do lado de fora do meu corpo.
comecei a chorar como uma criança, daqueles choros que ninguém vê, sem escândalo, de dor mesmo, e de medo do desconhecido.
pq qnd a gente é pequeno pensa: será q vai cair a pontinha? será q um dia vai parar de sangrar? será q eu vou secar pq vai sair todo o sangue? essas coisas.

mas quando começo a chorar pode sentar e mudar de canal, pq a novela vai longe.
olhava o meu dedo e tudo vinha.
me sentia só.
pensava na minha familia q estava tão longe.
lembrava das varias cenas q vi minha mãe, sempre cozinhando com pressa, tirar tampas dos dedos nesses super raladores que vendem no centro, e de repente a batata q ela tava picando ganhar cobertura de sangue. e eu lembro da angústia que sentia pq ela botava o dedo de baixo da torneiro, apertava a ponta e também os olhos, marcando as ruguinha bem recentes nela, tão jovem adulta, e prendendo do lado de dentro o choro.
me dava pena, aí chorava eu por ela. e ela me enxotava da cozinha e dizia: Não foi nada guria! deixa de drama!
isso me fazia lembrar quando muitas pessoas queridas e bem próximas me acusavam de que eu precisava de desculpa pra chorar.
não é que tinham razão?? pq já fazia uns dez minutos q eu chorava, e doía bem pouquinho. eu olhava pro corte e tirava o outro dedo que tava apertando, pra saber se já tinha parado de sangra, e começava a sangrar de novo.
aí eu lembrava do meu Mano, que con 5 ou 6 anos perdeu a pontinha, e imaginava se ele sentia a mesma sensação que eu: de que tinha cagado, não precisava ter cortado...mas cortô!
mas aí chorava mais, pq lembrava q a pontinha dele não ia volta a crescer, como ele tanto me perguntou quando recém tinha acontecido. e sabia q ele também não chorou, pq não queria deixa o vô mais nervoso.
de pena do seu amado avô, que tinha acabado de decepar o dedinho de seu neto querido e tão pequeno, para sempre.
o Avô que seguiu a ambulância de Imbé até porto alegre, no seu chevete escuro e calorento, quem saberá se chorou ou não? as vezes penso que sim, um pouquinho, porque a dor era tanta e ia durar tanto tempo, que um pouquinho só, para não explodir não tinha problema, não redimia a culpa, não disolvia o cancer, mas quem sabe, um pouquinho só. quem sabe?
e eu de saudade dele chorei e chorei mais ao imaginar a solidão do meu irmão na ambulância, e a coragem de dizer q não doía, quando seguramente cortar uma falange de un dedinho mínimo de um gurizinho de 5 ou 6 anos dói!
e esse nó na minha garganta que só crescia.
e como o sangue que não podia parar de chorar, eu também não parava de sangrar.
aí vem o Jorge, com a violeta genciana, essa coisa roxa no meu dedo, e manchando todo o caminho, ri do meu choro solto.
ele me olha e diz q me ama, e pede para eu nunca mudar.
ri, que rola no chão, pq já faz mais de meia hora que eu choro.
e rio também das suas estripulias, q de qualquer forma me alegram, mas não tapam as comportas que uma vez abertas só terminam quando de verdade acaba.
e entre choro e riso, eu olho e olho e olho pro corte e penso que de verdade a dor é pequena, mas dói. e lembro do pão integral, da cenoura bem dura, da vagem, cebola e todas as coisas que pico diariamente para fazer a comida. por um segundo alucino que elas também sentem dor, e me dá pena, e penso: como vou comer de aqui em diante?
imagino seus corpos durinhos e coloridos, cada um com seu tipo de textura, vivendo o momento de ser picado. não posso conter a tristeza de pensar que gero tanto sofrimento.
concluo que estou louca.
resolvo contar pro Jorge, afinal ainda há tempo de ele fugir.
sabe porque eu to chorando??
e ele sorrindo, me abraça e pergunra: por que??
é que eu começo a lembrar e pensar na minha familia, no dedinho do meu irmão e nas mãos da minha mãe, que são tão iguaizinhas às minhas, e vou, e vou e vou até imaginar que as coisas q eu eu pico também sente a dor que eu sinto quando me corto!
pronto contei.
e espero que ele se incomode, claro...
que me dia que isso já é de mais!! fico procurando desculpa pra chorar!!
mas ao contrário ele sorri, me abraça e me diz: mi reina, mu dulzura, como te amo.
e eu pergunto: sério? mesmo?
ele ri,
claro.
tu com as tuas, eu com as minhas, não há forma de que sejam mais compatíveis as nossas lou-curas.

eu penso um pouco e finalmente me acalmo.
já não há mais razão pra chorar.
o meu dedo, roxo, picado
já conseguiu parar de sangrar.

e eu nisso tudo, como bem disse ele, vou encontrando a minha cura-ção.

Um comentário:

Luana disse...

haha adorei seguir teu pensamento. e descobrir que não sou a única louca que pensa esse tipo de coisa...
quando era pequena eu tinha pena de deitar no travesseiro por achar que ele ia se sentir sufocado, ou sentir dor. e comecei a pensar na cama, no chão..
ah! lembrei de outra viagem... eu achava que se eu dobrasse muito as articulações, elas iam ficar desgastadas e não iam funcionar. ai quando ia dormir tentava ficar reta, sem dobrar nada.. ahhahha

beijos, anninha! nos vemos em breeeeve! :D