14 de ago. de 2008

de Paraga...

Para el blog, desde Paraga.

O que não sai da mina cabeça é a intensidade desses últimos dias.
Ontem horas e horas, longas naquele Bus, com gente no teto, com gente nos bancos, no encosto no meu braço transformando mina coluna em Ese, e me pondo em dilemas profundos.
A primeira coisa que começou a me tirar do serio foi ver a gente metida dentro do bus brigando por lugares, brigando, discutindo, e me dizendo para sentar logo, Mona! (assim chamam mulheres brancas aqui).
E por quê brigam entre si, e não com o dono do bus?? Por quê aceitam serem tratados como gado, e postos em riscos? Naquelas curvas imensas, eu que estava do lado de dentro tinha medo de sair pela culatra, imagina quem está lá em cima sem cinto, sem nada, correndo de verdade o risco de cair.
De Almaguer sai um Bus as 4h, outros as 6h, outras as 7h e outro as 13h. Ou seja, o nosso era a última possibilidade de sair de lá ao sábado.
Estavam todos montados ai como bichos, com suas sacas grande de coisas q vendiam ou compravam no dia de Mercado (feira para gente).
E me doía pensar que isso era mais uma das formas que a gente explorada encontra de vingar sua sina explorando outros.
Por que não viajar de uma forma mais digna, pq não oferecer dignidade em resposta a dor sofrida?
E o meu dilema era se eu cedia lugar a essa agressiva velhinha que me empurrava pra fora do ônibus. Mas me dava pena: mais de 7 horas de pé torta. Por outro lado eu estaria servido ao sistema q eles criam, onde as pessoas tentam compensar internamente as coisas, sem reclamar com eles, sem confrontar. Então, buscando um caminho do meio, oferecia meu encosto de braço, e o meu conforto, já q a partir daí ía mais para o lado, caindo sobre o moço do meu lado, mas pesando a cabeça pras costas da veia.
Pensando no piolho que podia saltar facilmente de índia pra Mona... no cansaço da outra senhora que vinha toda a viagem sendo molestado por uns borrachos porque carregava uma garrafa de 2l de leite.
E a poeira entrava cada vez q paravam e metiam mais gente.
A cada buraco o teto fazia um movimento para baixo como que fora despencar na minha cabeça. Aquela gente com tralha de mercado, a decoração vermelha no teto do Bus, o cheiro de trabalho,a poeira preta no meu nariz, e a vista ao lado, tudo me parecia uma fotografia, e eu me sentia longe dali, relembrando meu cansaço, relembrando o que significou conhecer as entranhas de uma Colômbia que antes desconhecida por mim, não existia.
O desfiladeiro, alto, vazio, perigoso, duro, e a professora resolve me contar que aí já caíram 5 chivas (esse ônibus q parecem o dindinho da praia de Imbé). E em uma dela estava sua prima e muitos de seus alunos.
Ui prof, isso é hora de me contar isso?
Essa pessoa super querida, que conseguiu me fazer sentir oprimida pela quantidade de comida que me oferecia, e o excesso de proteção. Me fazia sentir como um bebe e chamar muita a tenção, o que não gosto.
Mas também é tão bom sentir o cuidado das pessoas. Assim sou eu esperando que meu sapinho cante e que seja tu. A me dizer que sou bruxa, que te conheço e que sem saber bem como ou porque, te entendo.

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