14 de ago. de 2008

A NOITE EM QUE AS ESTRELAS CAIRAM NA TERRA

Era pra ser meu dia de folga. A turma de Almaguer resolveu me levar para conhecer umas lagoas em cima de morros super conservados. O caminho era longo, saímos as 5h da manha, obviamente tudo não foi bem como planejado, já que entre nós há um Mocorroy.
Comendo poeira em uma camioneta, e cheirando diesel queimado, a paisagem ia passando de frente pra traz, como uma pelicola de matinê. Da monotonia das montanhas acidentadas, volta e meia, pero bem freqüente um dedo na estrada fazia com a caminhoneta parasse, perigando apagar, já que não funcionava com injeção eletrônica, nem tinha velas decentes. E aí subia mais um coadjuvante em minha vida. Podiam ser meninas com bebes (como a que me permitiu momentos de doçura no terrível ônibus de ontem, recarregando minhas energias com sua pequena bolinha de carne de 5 meses, calma, rechonchuda, e apegadíssima ao meu dedo indicador.) podiam ser senhores com pinta de cowboy, ponchos e chapéus quase mexicanos, com seu bigodes, sorrisos e caras marcadas... jovens perdidos a noite, senhoras agricultoras com seu rádio pendurado no pescoço, mas não pequeno como se imagina um celular, mas grandes como esses rádios pretos de plástico que os pedreiros escutam jogos de futebol.
E assim seguia, subindo e descendo gente pelo caminho. E o Camilo e suas perguntas (8 anos, e uma mente brilhante). Chegamos lá e me fizeram subir a cavalo, com razão, pois era altíssimo. Eu não sentia dificuldade de caminhar, apenas sentia que em um pequeno trecho meu coração começava a bater tão rápido que eu não podia mais respirar... e parava por preocupação de cair morta com um enfarte aos 22 anos.
Quando começamos a chegar na coluna vertebral da montanha, eu olhava pra traz e o vale de La Papas estava iluminado, verde claro, como uma coisa divina, enquanto todo o resto era acinzentado por uma nuvem bem sobre a nossa cabeça. Lá embaixo no pé da montanha a minha direita havia manchinhas claras q logo descobri que eram essas plantas extremamente peludas que são guardiãs de água. Quando chegamos lá em cima eu tive alguns segundos de uma vista, a mais linda em termos de ecossistema de Colômbia até agora. E soube que não duraria muito aquele momento. Eu, que já estava no meu limite, de uma semana super cansativa, agüentando o frio, comecei uma hipotermia forte. Começou a chover e formou-se uma imensa nuvem que já não se via nem uma partezinha da lagoa, e desesperadamente supliquei para que voltássemos.
Lá abaixo da montanha pude recuperar meu calor e minha estrutura emocional. Mas na caminho até lá me senti um bebe de colo, abandonado. O frio mexeu comigo de uma forma, meu corpo todo doia, em especial as mãos congeladas, e eu montada num cavalo que descia uma trilha cheia de cascalho, resbalando e tropeçando, e eu pensando que a qualquer momento despencava dali e batia minha cabeça numa pedra. Cheia de medo e dor, queria chorar, brigar.. mas não tinha ninguém ali pra levar a bronca.. ai eu ria por dentro e pensava como a vida era frágil.
No caminho de volta a caminhoneta atolava, parava de funcionar, juntava gente e passava pelo mesmo caminho que desse vez estava virado pro outro lado e não era mais de ida e sim de volta.
E foi nesse mesmo caminho q dessa vez escuro por noite e não por chuva, surge essa pergunta, bem séria desse menino: "mãe, por que as estrelas caíram na terra?" ao ver as luzes dos povoados a frente... e eu fiquei pensando na riqueza que é ter a mente aberta a tantas possibilidade nessa idade, que é capaz de aceitar a possibilidade das estrelas terem caído na terra.
E o que é que acontece com a gente, que endurecemos tanto, e não somos mais capazes de fazer essas perguntas...?

2 comentários:

analuiza disse...

anninhaaaaaaaaaaaaaaaa li tudo...bah!
Olha, quero agradecer por compartilhar e eu me sentir tão próxima de ti...sentindo junto e imaginando..quero te dizer que sim tu é muito corajosa, que é incrível tudo isso, que tu torna uma menina de muito muito valor..com tantas experiências na tua bagagem...fique perto sempre...te cuida..o quanto der..saudades!

Mirna Nóbrega disse...

eu sigo tentando buscar essas perguntas, mas realmente em alguns momentos elas me fogem.

Fico encantada com seu olhar sobre o mundo e com sua forma de externar o que se mostra a você.

Ah! E o mocorroy passa..

beijoooos